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Afeganistão continua muito pobre dez anos após fim do regime Talibã


Cabul está caindo aos pedaços: tem cinco milhões de pessoas e uma estrutura para 500 mil. A maioria das estradas ainda é de terra, o que ajuda os terroristas.

Há dez anos, a atenção de todo o mundo se voltou para um país pobre da Ásia: o Afeganistão, onde o terrorista Osama Bin Laden se abrigava, com o apoio do governo. Na época, o país era comandado pelo grupo Talibã, que impunha uma ditadura político-religiosa. As leis eram frutos da interpretação rigorosa do livro sagrado dos muçulmanos.
Menos de um mês após os ataques de 11 de setembro, os Estados Unidos e outras potências ocidentais invadiram o país. Na quarta reportagem da série sobre os 10 anos dos atentados, os enviados especiais Marcos Uchôa e Edu Bernades mostram como está, hoje, o Afeganistão.
Cabul, a capital do Afeganistão, é completamente cercada de morros. São cheios de casas muito pobres de gente que veio para a cidade à procura de trabalho e também de segurança. Muitos são refugiados que viveram anos no Paquistão e no Irã. Tinham fugido de todas as guerras que o Afeganistão sofreu, mais ou menos sem parar, nos últimos 32 anos.
Cabul tem cinco milhões de pessoas, mas uma estrutura para 500 mil. Está caindo aos pedaços, e, nas últimas décadas, muita gente deu um empurrãozinho. Entre elas, as duas maiores superpotências do século XX.
Um afegão conhece bem essa historia. O homem ilustra bem o que aconteceu no Afeganistão: ele estudou em uma universidade em Moscou, da época em que os russos mandavam na cidade. Agora trabalha no Ministério da Defesa com os americanos, mas fala muito mais russo do que inglês.
É no centro da cidade que todos os afegãos se encontram. É uma multidão. Cruza-se com soldados e policiais, mas há muito tempo que os estrangeiros não botam mais os pés no lugar. No entanto, a gentileza é constante. Do famoso chá, de bom tom oferecer e claro aceitar, ao pai que mostra a pombinha que comprou para o filho.
Você compra telefone no meio da rua, troca dinheiro no meio da rua e vê uma variedade incrível de produtos. Cada homem é uma loja ambulante. Os talibãs proibiam praticamente tudo: música, televisão. Mas tinha uma coisa que eles adoravam: perfume.
Tudo é tão atrasado que o sorvete é misturado manualmente, em uma quase dança. No churrasquinho de lei de todo mercado, um vendedor mostra quem manda: o governo americano derrubou o Talibã do poder e hoje recebe uma homenagem indireta.
No Mercado Bush, em homenagem ao ex-presidente americano, várias mercadorias desviadas das bases militares. Os afegãos compram nele produtos de melhor qualidade. Tem até os pacotes de comida que os soldados americanos usam.
Para abrir uma lojinha, a preferência é para quem lutou contra o Talibã. Um homem já se aposentou, era um oficial. Diz que mesmo que as tropas americanas forem embora, ninguém vai aceitar mais o Talibã. Alguns americanos vão embora do mercado e esse ano começam, devagar, a retirar suas tropas.

Mas quase não se vê os americanos. Os aviões militares não param e eles praticamente só se deslocam pelo ar. A insegurança no Afeganistão empurrou todos estrangeiros para os aviões.
No interior, os soldados só andam em comboios, mantendo uma distância grande de um veículo para o outro, para evitar que uma explosão acerte mais de um carro.

O Afeganistão é muito pobre e tem poucas estradas. A maioria é de terra, o que é muito bom para o Talibã. Quando um estrangeiro passa, as pessoas veem e sabem que ele vai ter que voltar pelo mesmo caminho. Isso dá tempo para o Talibã cavar, preparar minas e explosivos. A grande maioria dos soldados americanos tem morrido assim, mesmo em carros blindados.

A província de Bamiyan, mais tranquila, é famosa pelos enormes budas explodidos pelo Talibã. Deixou um vazio no local e na cidade, que não recebe turistas há muito tempo.
Conversamos com um pastor que conta que, por causa da seca, vai ter que vender todo o rebanho dele em Cabul. Serão entre cinco e seis dias andando até a cidade. Ele ri e admite que está preocupado com a estrada, que ficou muito perigosa.
A falta d’água, algo tão básico, afeta todo mundo. O governo prometeu abrir mais poços, mas não fez nada ele diz. Com tanto dinheiro gasto para lutar contra o Talibã, falta para as obras mínimas de infraestrutura.
Pegar água no poço é uma ocupação diária e as crianças, desde muito pequenas, se ocupam disso. É trabalho, só vira diversão quando um estrangeiro estranho aparece para ajudar.
O Afeganistão, ao longo de séculos, já foi invadido muitas vezes. Entrar é fácil, ficar é difícil. É curioso que, no Afeganistão, tudo, de certa maneira, lembra guerra: as fortalezas, o brinquedo de criança com o formato de aviões bombardeiros. Isso em um país onde a média de expectativa de vida é de apenas 44 anos e meio, uma das mais baixas do mundo.
Para os mais velhos que já sofreram tanto, para os mais jovens que ainda vão sofrer, a história de guerras do Afeganistão é como um carrossel: roda, roda, e não sai do lugar.


Fonte: http://www.g1.globo.com/

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